quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Paralelas do Conforto



Essa vida é mesmo coisa engraçada, não é? Ainda me lembro como se fosse ontem da época em que minhas conversas giravam em torno de músicas e livros "da moda" e o que mais importava nessa vida era decorar na aula de geografia a posição de todas aquelas linhas paralelas invisíveis que aprendi dividem o nosso amado planetinha em zonas. Naquela época eu era terceira série e não importava o quanto rascunhasse, a professora Cláudia sempre conseguia fazer "aquela" bagunça no quadro, puxando setas em todas as direções e me mostrando que nem todas as canetinhas coloridas do mundo poderiam me ajudar naquela difícil missão. Naquele tempo não tinha muito talento em fazer amizades e a única companhia que tinha na escola era Lara. A companhia continuou e, os trópicos poderiam até continuar esquecidos não fossem as conversas que temos tido ultimamente.

"Está livre hoje?" é como quase sempre começam os diálogos que na maioria das vezes rendem uma tarde de um filme só. Enquanto assistimos o tal filme conversamos sobre outros filmes, sobre livros e sobre tudo e um dia me ocorreu que as nossas conversas assemelhavam-se muito ao quadro da professora Cláudia: cheias de "setinhas" coloridas em todas as direções e cruelmente confusas à um olhar clandestino. De repente me vi aplicando esse raciocínio a um campo maior, o da vida. Visualizei as linhas imaginárias que nos dividem nessas nossas zonas familiares e de amizade e que de vez em quando parecem tão intransponíveis quanto barreiras visíveis e dei-lhes um nome bobo paralelas do conforto. Voltei-me então para as setas coloridas que legendavam e caracterizavam cada trópico e batizei-as com nomes de amigos. Achei melhor assim, com nomes amigos as paralelas ficam muito mais confortáveis.


Lembrei-me então  dos abraços carinhosos que recebi nos reencontros, e dos ataques de risadas sem fim. Lembrei daqueles amigos que me acompanharam durante um período limitado da vida, mas que também me ensinaram algo; aqueles para os quais escrevi cartas de agradecimento na despedida da minha saudosa 4ª série; dos amigos que ainda revejo no ônibus ou na livraria e sempre que encontro reconheço em seus olhos o carinho e as recordações daquela época tão singular que passamos juntos.

Em certo momento me peguei revendo lembranças de cada um dos amigos, onde eu dançava para fora dos limites das paralelas e alternava entre os espaços. De cada um deles eu lembrava, a seta lilás, a azul, a verde, a amarela, a laranja... Era tudo tão colorido e nítido e no meio de tudo aquilo me dei conta de que, afinal, duas grandes coisas haviam mudando muito nos últimos tempos: 1) com os nomes dos amigos não era mais tão difícil decorar cada trópico e 2) não haviam linhas suficientes para as amizades que aprendi a fazer ao longo da vida.

Este texto foi escrito para o Crônica sem Eira



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